Conversando no empório

*por Luis Borges ,  28 de setembro de 2024 – Pensata


Era uma sexta-feira por volta das 16 horas, muito calor de final de inverno, num empório de um bairro da zona leste de Belo Horizonte. Uma pequena fila estava formada à espera do atendimento no balcão. De repente, a fila cresceu um pouco mais com a chegada de dois novos clientes que logo começaram a conversar em voz alta, o que possibilitou às pessoas presentes no ambiente ouvir atentamente os detalhes da conversa. As compras do cotidiano no bairro sempre trazem alguma novidade para quebrar a rotina e nos mostrar que nenhum dia é como o outro, por mais rotineiro que seja.

Mas, vamos aos fatos e dados. Logo de cara, ao se encontrarem, foi possível saber que um é médico ortopedista e o outro médico anestesista, ambos com mais de 70 anos de idade. Um disse ao outro que ele estava muito sumido, o foi prontamente retrucado com a afirmação de que “nós estamos sumidos um do outro”, o que invalida qualquer cobrança.

O anestesista perguntou ao colega o que ele anda fazendo atualmente e como está a sua família. Ele disse que se aposentou no trabalho que tinha no hospital e que continua atendendo clientes em seu consultório, tanto os particulares quanto os de planos de saúde, esses apenas dois dias na semana.

O ortopedista também falou que faz caminhadas de 40 a 45 minutos três dias na semana, frequenta academia outros dois dias e faz um pouco de natação nos finais de semana, sempre que possível.

Quanto aos filhos disse que são três, todos bem encaminhados na vida, sendo que 1 é médico cardiologista, outro advogado e o mais novo é engenheiro mecânico que trabalha no Canadá. Ele virá ao Brasil para as festas de natal e ano novo.

Por sua vez, o anestesista disse que está pensando em se aposentar do hospital, onde trabalha há décadas, no final desse ano ou início do próximo. Ele afirmou que está sentindo um certo cansaço do dia a dia do bloco cirúrgico.

Tem duas filhas, uma engenheira química e outra administradora de empresas, cada uma com dois filhos.

Ele está pensando que, após a aposentadoria, continuará trabalhando em seu consultório nas tardes das terças , quartas e quintas prioritariamente para atender clientes particulares, já os clientes de planos de saúde poderão ser encaixados na agenda de quinta-feira. O anestesista ainda disse que seu sonho era ter mais tempo para se dedicar às atividades físicas, principalmente fazendo caminhadas e natação em alguns estilos.

Quando a conversa ia tomar o rumo das eleições para prefeito e vereadores em Belo Horizonte chegou a vez dos dois colegas da faculdade de medicina serem atendidos no balcão do empório.

Caro leitor, será que o anestesista vai conseguir se aposentar no tempo que ele está pensando? Dá para imaginar quando os dois colegas se encontrarão outra vez num empório?

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* Araxaense, Engenheiro Mecânico formado pela UFMG, professor universitário na graduação e pós-graduação, especialista em Gestão Estratégica de Negócios e Mentor.